segunda-feira, 30 de maio de 2011

Um deles

Posso ter me tornado um deles. Apenas mais um que pertence ao grupo de pessoas apressadas, estressadas, que não respeitam os outros e empurram quem estiver à frente.

Digo isto, porque comecei a pegar metrô todos os dias de manhã, numa linha cheia e num horário cheio. Esta rotina começou a fazer mal para mim, iniciava o dia já irritada. Afinal, é absurdo.

Na maioria das vezes, quando você chega à plataforma, há um pequeno bolo de pessoas - com uma muito próxima da outra. Às vezes, este bolo termina depois da linha amarela, quase no vão dos trilhos. Logo você fica no meio, não mais no final. À sua volta, cada vez mais pessoas surgem. Mais e mais.

Ao trem se aproximar, o grupo transforma-se em bloco, com as partes grudadas e que se movimenta por inteiro. Você, já perdido por ali, é prensado com certa violência, a ponto de não conseguir respirar. Depois de o bloco contrair, se mover e um ou outro atropelar muitos, ele descontrai. E todos voltam à espera do próximo trem.

O processo repete-se cerca de duas vezes até você entrar no tal bloco que consegue entrar em um vagão. Algumas vezes o bloco te leva e outras você é levado por ele. Nem é necessário mexer as próprias pernas.

A saída pode ser tranquila ou tão selvagem quanto a entrada. Se você está no caminho, pode ser carregada para fora. E, se está na porta, pode levar um empurrão sem ouvir um pedido de desculpas em seguida. Se vai descer na estação, pode ser atropelado - mais uma vez.

Me adaptei à situação e percebi que comecei agir de uma forma parecida. Comportamento que desaprovo totalmente. Assim, passei a sentir um incômodo interno e perguntei a mim mesma: "estou me tornando um deles?". A resposta foi afirmativa. Fiquei agoniada. Nessas horas, vem a crise existencial. Não faz sentido ser como os outros se não gosto e não quero. A solução foi fácil, na realidade. Porém o mais importante é que percebi a tempo de não ser - de fato - um deles.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Pilotando fogão 1

Um adendo ao post anterior. Estive pensando mais sobre o assunto, lembrei de coisas passadas e cheguei a novas ideias.

Quando era criança, gostava de anotar receitas de doces e bebidas principalmente. Comecei a gostar de fazer bolos e biscoitos. Ajudava minha mãe a preparar pães caseiros, bombons, sorvete, brigadeiro e beijinho. Nas férias, era capaz de passar várias manhãs ou tardes seguidas assando e comendo biscoitos. E me divertindo.

Cresci um pouco e continuei a preparar "sobremesas". Claro que com menor frequência. O ápice da minha inspiração gastronômica foi há uns anos, quando decidi testar uma receita de pavê de chocolate com morango. Uma delícia, aprovado pela família.

Mas, na época pré e durante faculdade, estava com mais tempo e... fui encarregada de fazer almoço, quase todos os dias. Havia dias em que me irritava com a obrigação, havia outros em que me entediava e outros ainda que me animavam, me deixando à espera de elogios. Recebi algumas críticas, logicamente.

Por isso, acho que um dos motivos por eu não gostar de cozinhar hoje é justamente o fato de eu ter tido a tarefa como uma obrigação e ainda só minha. Bagunçar um pouco a cozinha era legal, porque me divertia, era algo legal e compartia isso com minha amiga. Apesar de tudo, ainda é possível eu me interessar mais pela culinária no futuro, em outras circunstâncias.

domingo, 8 de maio de 2011

Pilotando fogão

Aproveito o Dia das Mães para falar sobre um assunto que tem fortes laços com o papel feminino. Cozinhar, tarefa conhecida também como "pilotar fogão".

A primeira pergunta que me faço é por que esta é uma "missão" feminina. A explicação (histórica) que me vem à cabeça me remete à época em que as mulheres não tinham escolha e eram donas de casa. Cozinhavam, lavavam, passavam, cuidavam dos filhos e do marido. Pensamento machista ainda presente hoje.

É claro que existem as vantagens de saber e gostar de cozinhar. Você consegue sobreviver sozinha; se for mãe ou avó, agrada a família e se sente bem com isso; de certa forma, faz uma terapia; estimula a criatividade e aprende a se organizar.

Eu - na realidade - já confessei que não sou fã de preparar comida e ainda com sorriso no rosto. Muitas pessoas estranham o fato e algumas até me criticaram, como se fosse algo totalmente absurdo. Prefiro lavar louça a cozinhar.

Chegou a hora de me defender.

Os papéis sociais da mulher - e do homem - estão mudando. Muitas mulheres dão prioridade aos estudos e seguem sólidas em uma carreira. Assim, elas dispõem de menos tempo para os afazeres domésticos e precisam de praticidade. Quando não têm tempo, buscam se adaptar - pedir para entregar comida em casa, comprar congelados ou comida semi-pronta, etc. Por outro lado, quando podem ir para a cozinha, preferem dedicar o tempo livre a outras atividades. Afinal, cozinhar não é só criar o prato, é um processo que envolve também a compra e a escolha dos ingredientes.

Além disso, alguns homens estão se tornando mais independentes e já sabem cozinhar um pouco. Existem aqueles que adoram este ritual e até convidam amigos para experimentar o resultado de suas aventuras gastronômicas. Este tipo seria o "marido ideal" para muitas mulheres.

Já ouvi representantes do sexo feminino revelarem que cozinha não é seu hobby ou forte. Eu sabia que não era a única a pensar assim, porém, me sinto muito mais confortável em ter certeza.

E, enfim, meu último argumento. Talvez o melhor de todos. Durante a semana, no horário do almoço, vi várias senhorinhas comendo em restaurantes self-service (vulgo "quilo"). Isto significa que elas não estão em casa preparando sua própria comida. Até elas estão se rendendo a essa praticidade! Não tem mercado ou feira, tempo na cozinha e louça para lavar. Uma maravilha.

É verdade que não é maioria. Muitas ainda vão fazer compras e aproveitam para socializar. Outras gostam mesmo de fogão.

Meu sentimento de ser considerada "diferente" diminuiu, as mulheres não são obrigadas a gostar de cozinhar. Mas ainda sei que algo me incomoda, me vejo diante de uma contradição. Neste momento, continuo a evitar a cozinha e o fogão, ideia que - em um futuro próximo - poderá mudar.