sábado, 20 de setembro de 2008

O grande poeta Mário de Andrade

Quando se fala em Mário de Andrade, as pessoas geralmente lembram-se de Modernismo no Brasil e de leitura clássica obrigatória, como Macunaíma, ou obras críticas, como Lira Paulistana ou Paulicéia desvairada.

Para ser sincera, li Macunaíma só depois de ter saído o colégio - para o vestibular. Apesar de ter sido assim, mesmo antes de terminar o livro, enfim, eu tinha entendido tudo aquilo que a gente estuda, mas não entende.

Mário de Andrade foi também um grande mestre da poesia – não que eu conheça bem sua obra completa. Por causa do TCC, descobri o poema Meditação sobre o Tietê, escrito entre 30 de novembro de 1944 e 12 de fevereiro de 1945, treze dias antes de sua morte.

Escolhi dois trechos. O primeiro mostra a preocupação do poeta paulistano com o rio Tietê já poluído, mesclando com seus próprios sofrimentos. O outro, simplesmente lindo, trata dos efeitos do amor sobre o escritor.

Boa leitura!





“É noite... Rio! meu rio! meu Tietê!
É noite muito! ... As formas... Eu busco em vão as formas
Que me ancorem num porto seguro na terra dos homens.
É noite e tudo é noite. O rio tristemente
Murmura num banzeiro de água pesada e oliosa.
Água noturna, noite líquida... Augúrios mornos afogam
As altas torres do meu exausto coração.
Me sinto esvair no pagado murmulho das águas.
Meu pensamento quer pensar, flor, meu peito
Quereria sofrer, talvez (sem metáfora) uma dor irritada...
Mas tudo se desfaz num choro de agonia
Plácida. Não tem formas nessa noite, e o rio
Recolhe mais esta luz, vibra, reflete, se aclara, refulge,
E me larga desarmado nos transes da enorme cidade”

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“Pois mais uma vez eu me aniquilo sem reserva,
E me estilhaço nas fagulhas eternamente esquecidas,
E me salvo no eternamente esquecido fogo de amor...
Eu estalo de amor e sou só amor arrebatado
Ao fogo irrefletido do amor” 




Mário de Andrade (1893-1945)