terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sayonara

Ano passado foi um período de muitas emoções para mim. Freelas que exigiam trabalhos diferentes, aprendizado, esforço e contato com pessoas diferentes. Num freela desses, conheci a dona Eiko Kanazawa.

Uma senhorinha nissei (filha de japoneses) muito simpática que ajudou uma pequena fábrica de doces se tornar uma grande distribuidora. Ela faz parte do grupo de pioneiros japoneses que se instalaram no bairro da Liberdade, em São Paulo, e desenvolveram o comércio local.

Esta foi a pauta da matéria que fiz no início de 2010, intitulada "Pontos comerciais guardam a história do bairro da Liberdade". Fui até a loja para ouvir o depoimento dela, entre alguns outros.

No início, assim como muitos japoneses, ela ficou um tanto receosa, mesmo que eu tenha falado para qual jornal ia ser a matéria. Mas logo percebeu que a conversa poderia ser boa. A senhora Kanazawa me contou sobre a história de sua loja - que teve uma ajuda de sua família -, sobre o bairro oriental e até de alguns de seus hábitos.

Me chamou a atenção o fato de ela ser bastante ativa. Todos os dias marcava presença nas aulas de ginástica para terceira idade às 6h. Além disso, fazia uma curta caminhada até sua loja, também diariamente.

Agendei um novo encontro para o fim de semana passado. Confesso que é uma vergonha levar uma cópia da matéria para os entrevistados quase um ano depois de ser publicada. E foi justamente o tempo que fez a diferença.


Ao chegar à loja, perguntei pela senhora Eiko Kanazawa e tive uma resposta objetiva-grossa. "A dona? Ela faleceu no ano passado." Fiquei atordoada, sem reação, me sentindo culpada. Tudo ao mesmo tempo.


Fui encaminhada para uma senhorinha japonesa que faz a venda dos doces. Amiga de dona Eiko. Não cheguei a me apresentar, mas expliquei o porquê de minha visita. Quando ela entendeu, abriu um sorriso e demonstrou sua felicidade. Disse que o filho Kanazawa iria ficar feliz com a matéria e com a foto que tirei dela.


De fato, nunca imaginei que fosse procurar por uma pessoa e ela não estar lá já há um tempo. Só não me martirizei, porque a reação da senhorinha amenizou meu sentimento de culpa.


Tudo que desejo agora é que a dona Eiko descanse em paz. Sayonara*, Kanazawa san!



*Sayonara significa "adeus" em japonês.