sábado, 14 de novembro de 2009

Quando as luzes se apagam

* texto escrito do dia 10 ao dia 11 de novembro de 2009

A luz oscilou por alguns segundos e apagou. Não foi apenas minha rua que ficou no escuro, foram bairros de São Paulo. Já por conta disso estranhei. Além disso, não estava chovendo - quando chove, é mais comum que isso aconteça.

Não tinha visto a hora. Mas já passavam das 22h. O alvoroço pós-blecaute durou pouco - ainda mais se comparado ao tempo em que ficamos à luz de velas. A energia voltou, fraca. Em questão de minutos, voltamos à escuridão. E ao alvoroço. E ao contínuo silêncio que que sucedeu, quebrado só com latidos, vozes ou motores de carros.

Passada uma hora e nada. As luzes não se acenderam. Olhando para fora da janela, via uma cidade-fantasma, escura, com leve neblina. Como em filmes de suspense ou terror.

Completaram-se 3h que as luzes se apagaram. Milhões de pessoas no escuro. Pela gravidade do problema, era de se esperar que demorasse. Um alarme de carro insiste em disparar. Inquietação, insônia, inverdade. Parece, mas não é ficção.

É exatamente nestas horas, de caso extremo, que sou tomada pelo sentimento de revolta.

Me pergunto como a situação chegou a tal ponto. Estados inteiros sem luz. E, quem sabe, o Brasil todo? Para mim isto é um sinal. Sinal de que algo não anda (nada) bem.

O problema da geração de energia elétrica tem solução. Talvez o que esteja faltando seja vontade pública. Porque solução existe: não há outro jeito, o governo tem de investir. E recurso público o governo tem - e de sobra. Por isso, termina por virar recurso privado. Assim, São Paulo torna-se cada vez mais decadente e carente de infra-estrutura básica.

A queda de energia é só um motivo a mais para afirmar que a cidade, o país e o mundo têm um limite. O homem parece que está "brincando" de usar o poder de sancionar e revogar leis, decidir e desistir, falar e desfalar, e - claro - levar tudo a seu limite, até explodir.

Será por conta de um traço cultural? Deixar as coisas como estão até algo dar errado para providências serem tomadas? Veremos cidades inundarem, rios secarem, famílias sofrerem e povos guerrearem para percebermos que algo não está certo e que se deve agir?

São Paulo é um bom exemplo de possível caos. Imagine a cidade sem energia elétrica em horário comercial. Ninguém trabalha porque nada funciona. Com tantos aparatos tecnológicos vamos regredir no tempo? Pois é, devemos admitir que nos tornamos absolutamente dependentes da  tecnologia, absolutamente dependentes de energia elétrica. Sem ela, no dia a dia, não fazemos nada. Não trabalhamos, não consumimos, não vivemos.

Afinal, o que é essencial para viver? O consumo ou a natureza? Um shopping ou um parque? Um carro ou o ar limpo? E como já disse, o mundo pode - de fato - virar um caos. Não estou sendo dramática e nem pessimista. São questões atrás de questões que vão surgindo e se agravando. Mudanças climáticas, chuvas, poluição, derretimento dos pólos, extinção de espécies animais e vegetais, derrubadas, queimadas. Em resumo, destruição.

Parece clichê, mas digo que ainda há tempo para salvar o mundo. Cada um deve se conscientizar de que tem um papel importante e também não podemos nos esquecer do valor das ações dos outros. Bilhões de pessoas fazendo um pouco já vale muito. Começar é difícil, parecemos estar andando no escuro. Mas não custa tentar.

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